terça-feira, 29 de março de 2011

Parasitismos - Os protozoários e a Saúde Humana

Como definimos um pouco as relações ecológicas, e em especial o parasitismos, vamos continuar o assunto só que agora com uma abordagem voltada para a saúde humana. É isso mesmo! Nossa saúde!
O assunto é protozoários e como eles estabelecem uma relação + - com nosso organismo, lembrando aí que o sinal - (menos) é a respeito de nosso organismo que é afetado/ parasitado.

Antes de mais nada... "protozoário... muito prazer!"
Vamos conhecer quem são primeiro antes de sair falando mau deles, certo!?
Bom.. são seres cujo tamanho pode variar de 2 a 1000 μm (micromêtros), são organismos exclusivamente unicelulares, ou seja, formados por uma única estrutura celular, sendo a maioria heterotrófica (ou seja, não produzem o próprio alimento). Portanto, não consegue converter (sintetizar) matéria orgânica a partir da inorgânica, necessitando absorver os nutrientes do meio externo. Algumas espécies são simbiontes (a relação ecológica neste caso é mutualistica), como é o caso do gênero Trichonympha que sobrevive no trato digestório (intestino) de cupins, auxiliando na digestão da celulose. Alguns outros protozoários são de vida livre e ainda outros são parasitas (é esses que nos interessam no momento). São classificados no Reino Protista e divididos em 4 filos, tendo como ênfase a mobilidade dos organismos conforme a atuação do mecanismo locomotor e seus anexos. A saber:
Filo Sarcodina → locomoção caracterizada pela emissão de pseudópodes;
Filo Mastigophora → deslocamento por propulsão flagelar;
Filo Ciliophora → movimentação mantida por curtas e numerosas estruturas ciliares;
Filo Sporozoa → não possui apêndices locomotores, sua dispersão é realizada através de esporos;

Chega de apresentações.. é hora do que interessa...

As Doenças

Amebíase

Entamoeba histolytica
Existem várias espécies de amebas que podem ser encontradas no Homem e entre elas a Entamoeba histolytica e a Entamoeba coli. A única espécie patogênica, em determinadas condições, é a E. histolytica embora em um grande número de casos viva como comensal no intestino grosso. A E. histolytica tem ampla distribuição geográfica, sendo encontrada praticamente em todos os países do mundo.

Sintomas:
Os sintomas mais comuns da amebíase são: disenteria aguda com muco e sangue nas fezes; náuseas; vômitos e cólicas intestinais. Em certos indivíduos no entanto, pode ser assintomática (não apresenta esses sintomas, mas isso não significa que o parasita não está se proliferando no indivíduo). Existem casos em que a ameba pode passar a parasitar outras regiões do organismo causando lesões no fígado, pulmões e até mesmo no cérebro (embora seja mais raro).

Contaminação:
É direta, não envolvendo um vetor. Ocorre pela ingestão de cistos (forma de resistência dos protozoários, adquirida como maneira de proteger-se de condições desfavoráveis do ambiente) juntamente com água e alimentos contaminados. Passam pelo estômago, resistindo à ação do suco gástrico, chegam ao intestino delgado, onde ocorre o desencistamento, de onde migram para o intestino grosso onde se colonizam. Em geral ficam aderidos à mucosa do intestino, alimentando-se de detritos e bactérias. Em determinadas condições, invadem a mucosa intestinal, dividindo-se ativamente no interior das úlceras e podem, atingir outros órgãos. A liberação de sangue juntamente com as fezes é conseqüente da ruptura de vasos sangüíneos da mucosa intestinal.

Profilaxia (prevenção):
Só ingerir alimentos bem lavados e/ou cozidos; Lavar as mãos antes das refeições e após o uso do banheiro; Construção de fossas e redes de esgoto; Só ingerir alimentos bem lavados e/ou bem cozidos; Tratar os doentes.
 
Giardíase


Giardia lamblia
A giardíase é uma parasitose intestinal mais freqüente em crianças do que em adultos e que tem como agente etiológico a Giardia lamblia. Este protozoário flagelado tem incidência mais alta em climas temperados.

Sintomas:
A giardíase se manifesta por azia e náusea que diminuem de intensidade quando ocorre ingestão de alimentos, ocorrem cólicas seguidas de diarréia, perda de apetite, irritabilidade. Raramente observa-se muco ou sangue nas fezes do indivíduo com giardíase que no entanto possuem odor fétido, são do tipo explosiva e acompanhadas de gases. Em alguns casos o estado agudo da doença pode durar meses levando à má absorção de várias substâncias inclusive vitaminas como as lipossolúveis, por exemplo

Contaminação:
Ocorre quando os cistos maduros são ingeridos pelo indivíduo. Os cistos podem ser encontrados na água (mesmo que clorada ), alimentos contaminados e em alguns casos a transmissão pode se dar por meio de mãos contaminadas.

Profilaxia:
Basicamente, para se evitar a giardíase deve-se tomar as mesmas medidas profiláticas usadas contra a amebíase, já que as formas de contaminação são praticamente as mesmas. Portanto deve-se: só ingerir alimentos bem lavados e/ou cozidos; lavar as mãos antes das refeições e após o uso de sanitários; construção de fossas e redes de esgotos; s ó beber água filtrada e/ou fervida; tratar as pessoas doentes.
 
Malária



Vetor da Malária; fêmea de Anopheles

A malária é causada por protozoários do gênero Plasmodium, como o Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale: os dois primeiros ocorrem em nosso país e são mais freqüentes na região amazônica. O vetor dessa doença são fêmeas de alguns mosquitos do gênero Anopheles. Estas, mais ativas ao entardecer, podem transmitir a doença para indivíduos da nossa espécie, uma vez que liberam os parasitas no momento da picada, em sua saliva.

Ciclo de vida de plasmódio:
Os esporozoítos infectantes do protozoário se direcionam até o fígado, dando início a um ciclo que dura, aproximadamente, seis dias para P. falciparum, oito dias para a P. vivax e 12 a 15 dias para a P. malariae, reproduzindo-se assexuadamente até rebentarem as células deste local. Após esses eventos, espalham-se pela corrente sanguínea e invadem hemácias, até essas terem o mesmo fim, causando anemia no indivíduo.

Note no esquema abaixo que no caso de mulheres grávidas infectadas pode haver transmissão para o feto.

Sintomas:
Febre alta, sudorese e calafrios, palidez, cansaço, falta de apetite e dores na cabeça e em outras regiões do corpo são os principais sintomas, que podem se manifestar a cada 48 horas, caso a infecção tenha sido causada pelo P. falciparum ou pelo P. vivax; e a cada 72 horas quando o agente causador é o P. malarie. Essa primeira espécie pode, ainda, afetar vários órgãos e sistemas do corpo, como o sistema nervoso e aparelho respiratório.

Tratamento:
O tratamento é feito com o uso de fármacos orais e deve ser iniciado o mais rapidamente possível, para evitar complicações como anemia, icterícia e mau funcionamento dos órgãos vitais, além dos riscos que um indivíduo acometido pelo P. falciparum pode estar sujeito.

Profilaxia:
A prevenção consiste em evitar picadas do mosquito, fazendo o uso de repelentes, calças e camisas de manga longa, principalmente no período de fim da tarde e início da noite. Evitar o acúmulo de água parada a fim de impedir a ovoposição e nascimento de novos mosquitos é outra forma de evitar a malária.

Doença de Chagas

"Barbeiro", vetor da doença
Esta, causada pelo protozoário Tripanosoma cruzi, é transmitido, principalmente, por um inseto da subfamília Triatominae, conhecido popularmente como barbeiro.  Este animal de hábito noturno se alimenta, exclusivamente do sangue de vertebrados endotérmicos. Vive em frestas de casas de pau-a-pique, camas, colchões, depósitos, ninhos de aves, troncos de árvores, dentre outros locais, sendo que tem preferência por locais próximos à sua fonte de alimento. Ao sugar o sangue de um endotérmico com a doença, este inseto passa a carregar consigo o protozoário. Ao se alimentar novamente, desta vez de uma pessoa saudável, geralmente na região do rosto, ele pode transmitir a ela o parasita. Este processo se dá em razão do hábito que este tem de defecar após sua refeição. Como, geralmente, as pessoas costumam coçar a região onde foram picadas, tal ato permite com que os parasitas, presentes nas fezes, penetrem pela pele. Estes passam a viver, inicialmente, no sangue e, depois, nas fibras musculares, principalmente nas da região do coração, intestino e esôfago. 

Sintomas:
Febre, mal estar, falta de apetite, dor ganglionar, inchaço ocular e aumento do fígado e baço são alguns sintomas que podem aparecer inicialmente (fase aguda), embora existam casos em que a doença se apresenta de forma assintomática. Em quadro crônico, o mal de Chagas pode destruir a musculatura dos órgãos atingidos, provocando o aumento destes, de forma irreversível.

Tratamento e profilaxia:
O tratamento, visando à eliminação dos parasitas, é satisfatório apenas no estágio inicial da doença, quando o tripanossoma ainda está no sangue. Na fase crônica, a terapêutica se direciona para o controle de sintomas, evitando maiores complicações. O controle populacional do barbeiro é a melhor forma de prevenir a doença de Chagas.


 
Esquema demostrando ciclo de vida do Trypanossoma cruzi
 
Saiba!
Existem muitas outras doenças causadas por protozoários, estas acima são apenas algumas. Se desejar saber sobre uma em especial mande uma mensagem atrvés de seu comentário no fim do post!

Lembre-se!
Nunca, mais nunca mesmo! deixe de consultar um médico. Internet não estudou medicina, mas seu médico sim!

Referências de pesquisa:

http://www.universitario.com.br/celo/topicos/subtopicos/parasitologia/doencas/doencas.html
http://www.brasilescola.com/doencas/malaria.htm

http://www.brasilescola.com/doencas/leishmaniose-tegumentar.htm

http://www.brasilescola.com/doencas/doenca-chagas.htm
 
http://www.brasilescola.com/biologia/protozoarios.htm 

sexta-feira, 18 de março de 2011

Parasitismo - A interação entre populações em uma comunidade

   Populações de animais fazem parte de um sistema maior conhecido como comunidade. Dentro de uma comunidade as populações de diferentes espécies interagem. As espécies de uma comunidade interagem em vários níveis e isso as afeta de várias maneiras, as relações de interação podem ser prejudiciais (-), benéficas (+), ou neutras (0).
Fig1: Exemplo de ectoparasitas
   De fato, uma das relações ecológicas que me chama atenção é o parasitismo. Esse tipo de interação é do tipo (+ -) em que o parasita é beneficiado, utilizando o hospedeiro como fonte de abrigo de nutrição, e o hospedeiro é prejudicado. A beleza do parasitismo está na "dança" de erros e acertos, que eventualmente levam o parasita ao sucesso, as modificações morfológias e biológicas sofridas pelos parasitas ao longo o tempo são adaptações que permitem uma afinação perfeita no seu modo de interação e sua total eficácia.
   O parasita vive literalmente as custas de seu hospedeiro, prejudicando a sua vida. No parasitismo, ao contrário do predatismo não há a morte imediata da espécie atacada (hospedeira), o que só acontece com o passar do tempo. Existem vários graus deste fenômeno. Dentre muitos podemos destacar a ação dos parasitoides. Eles são mais efetivos no seu ataque, levando o hospedeiro mais rapidamente a morte. Os parasitas e parasitoides ainda podem ser classificados quanto ao modo de infestação. Logo, os que agem externamente são denominados de ectoparasitas - Fig1 -  (ex: piolhos e carrapatos) e ectoparasitoides. Já, os que agem dentro do corpo, são chamados endoparasitas (ex: tênia - Fig2) e endoparasitoides.
Fig2: Tênia, exemplo de endoparasista

   As adaptações feitas às custas do hospedeiro, tornaram o invasor (parasito) mais e mais dependente do outro ser vivo. Essas adaptações foram de tal forma acentuadas que podemos afirmar que "a adaptação é a marca do parasitismo". As adaptações são principalmente morfológicas, fisiológicas e biológicas.
As principais modificações ou adaptações são as seguintes:

Morfológicas:
a) degenerações: representadas por perdas ou atrofia de orgãos locomotores, aparelho digestivo etc. Assim, por exemplo, vemos as pulgas, os percevejos, algumas moscas parasitas de carneiro (Mellophogus ovinus) que perderam as asas; os Cestoda que não apresentam tudo digestivo etc.

b) hipertrofia: encontradas principalmente nos órgãos de fixação, resistência ou proteção e reprodução. Assim, alguns helmintos possuem órgãos de fixação muito fortes, como lábios, ventosas, acúleos, bolsa copuladora. Alta capacidade de reprodução, com aumento acentuado de ovários, de cavidade para armazenar ovos, de testículos. Aumento de estruturas alimentares de alguns insetos hematófagos para mais facilmente perfurarem a pele e armazenarem o sangue ingerido.

Biológicas:
a) capacidade reprodutiva: para suplantar as dificuldades de atingir novo hospedeiro e escaparem da predação externa, os parasitos são capazes de produzirem grandes quantidades de ovos, cistos ou outras formas infectantes; assim fazendo, algumas formas conseguirão vencer as barreiras e poderão perpetuar a espécie.

b) tipos diversos de reprodução: o hermafroditismo, a partenogênese, a poliembrionia (reprodução de formas jovens), a esquizogonia etc. representam mecanismos de reprodução que permitem ou uma mais fácil fecundação (encontro de machos e fêmeas) ou mais segura reprodução da espécie.

c) capacidade de resistência à agressão do hospedeiro: presença de antiquinase, que é uma enzima que neutraliza a ação dos sucos digestivos sobre numerosos helmintos; capacidade de resistir à ação de anticorpos ou de macrófagos, capacidade de induzir uma imunossupressão etc.

d) tropismos: os diversos tipos de tropismos são capazes de facilitar a propagação, reprodução ou sobrevivência de determinada espécie de parasito. Os tropismos mais importante são: geotropismo (abrigar-se na terra - diz-se neste caso que é positivo, e abrigar-se acima da superficie da terra - diz-se neste caso que é geotropismo negativo), termotropismo, quimiotropismo, heliotropismo etc.

Assista no vídeo a baixo um caso interessante, e recém descoberto, de parasitismo entre vespa (+) e aranha (-). Para mais informação sobre o vídeo acesse o link do site Revista Pesquisa Fapesp e leia a mátéria na integra. [Ecologia] "Marionetes de oito patas" - Revista Pesquisa FAPESP



 


Referências Bibliográficas
  1. NEVES, David P. Parasitologia Humana. Editora: Atheneu, 11ª ed. cap2;
  2. HICKMAN; ROBERTS; LARSON. Integrated principles of Zoology. 11ª ed. cap40;